Provérbios são frases curtinhas que combinam poucas palavras com muita sabedoria.
Quanto mais antigo um provérbio, maior a chance dele ser genial, pois apenas o que é muito bom sobrevive ao tempo. Assim que o judaísmo é uma verdadeira arca do tesouro de provérbios geniais.
Além de ter todo um livro da Bíblia - משלי (Mishlei) - dedicado a provérbios, o judaísmo, ainda na antiguidade, registrou mais uma maravilhosa coleção de ensinamentos sobre a integridade moral, a virtude e a felicidade, no livro do Talmud chamado פירקי אבות (Pirkei Avot), uma expressão que é tradicionalmente mal traduzida como “A Ética dos Pais”, e cuja tradução literal é “Os capítulos dos nossos antepassados”, no sentido de “o que falaram nossos antepassados”.
Vamos então ver uma série de quatro belos e profundos provérbios judaicos de construção semelhante.
Na imagem está escrito:
Eizehú chacham (leia ch como rr) - Quem é sábio?
Halomed mekol adam - Aquele que aprende de todos os homens.
O filósofo grego Platão escreveu que Sócrates dizia: “apenas sei que nada sei”, frase que foi consagrada como sendo o “paradoxo Socrático”.
Os filósofos judeus eram líderes religiosos. Assim que eles não se limitaram a descrever a realidade e a natureza humana, como também a propor soluções para que o humano superasse seus limites. Então, afirmaram que um sábio não necessita apenas conhecer sua ignorância, mas também preenchê-la aprendendo de todos com quem ele interage, independente de status, nível cultural, gênero, origem e posição social.
A sabedoria não é só entender que todos têm seu valor, mas também conseguir extrair o que cada um tem de bom para oferecer.
Eizehú guibor - quem é o herói?
O segundo provérbio indaga e responde:
Hakovesh et itsro - aquele que domina seus instintos.
A força, segundo o judaísmo, tem que ser usada com muita parcimônia. Reagir com violência a qualquer provocação não é aconselhável. O correto é refrear a raiva e analisar a situação antes de tomar uma ação violenta. O judaísmo não diz “ofereça a segunda face àquele que te golpeou”. Quando o caso demandar violência, ela deve ser usada. Mas sempre de uma forma controlada e adequada às circunstâncias.
Eizehú ashir - quem é rico?
Essa é a terceira proposição.
Hassameach bechelkô - quem está feliz com a sua parte.
Todos conhecemos pessoas que têm muito de tudo e, ao mesmo, tempo, reclamam muito de tudo. As vezes estas pessoas irritantes (até mesmo engraçadas numa certa forma) estão lado a lado com gente em situação de precariedade material e/ou física, mas que não reclamam de nada, e que extraem felicidade do pouco que tem.
O contraste é impactante e com a ajuda do provérbio entendemos que os primeiros são pobres porque se sentem pobres, por mais que acumulem. Já os segundos não precisam acumular nada para se sentirem ricos e abençoados.
A seguinte formulação fecha o quadrado retórico:
Eizehú mechubad - quem tem honra?
Hamechabed et habriot - quem presta honra aos demais.
A honra não se adquire através da ocupação de posições de destaque social ou econômico. Ela se conquista ao ser respeitoso com os demais, independente de status e de interesses. Quantos e quantos são poderosos e destacados, mas ao mesmo tempo desprezados por sua conduta? Pensem na quantidade de líderes envolvidos em corrupção, assédio e abusos de poder.
Uma curiosidade desta frase é a palavra que eu traduzi como “os demais”. “Briot” significa literalmente “as criaturas”, ou “aquilo que foi criado”. Talvez haja, então, uma sugestão que honrado não é apenas aquele que honra todos os demais humanos, mas todas as criações, incluindo os animais e a natureza.
Ben Zomá (o autor destas frases) poderia ter escolhido muitas outras palavras para fechar a sua série. Mas escolheu uma que amplia o cuidado que nós, humanos, temos que ter com tudo o que foi criado por Deus.